Jumentos são abandonados nas estradas do Rio Grande do Norte
O JUMENTO É NOSSO IRMÃO
O jumento está causando polêmica no Rio Grande do Norte. Por causa da grande quantidade de animais abandonados nas estradas tem gente sugerindo abater os animais soltos para consumir a carne. O Globo Rural foi ver quem está defendendo essa ideia e conferir se realmente o jumento perdeu a serventia no sertão.
Há quem veja exagero nas palavras de Luiz Gonzaga: “O jumento é nosso irmão”, mas há quem confirme que sem jumento, não haveria Brasil. “Eu sou sozinho e a companhia que eu tenho é esse jumento. Para a agricultura, pra juntar meus animais, carregar comida daqui pra casa, levar água de lá pra cá”, afirma o criador, conhecido como Neto das Cabras.
Babau, gangão, fofachão, jegue... Pode até ter nome engraçado, mas tem fama de sagrado. “Todo jumento nordestino tem a chamada listra de burro ou faixa crucial, que é uma característica da própria espécie. Comenta-se que a família sagrada, fugindo de Herodes, teria deslocado Nossa Senhora montada no jumento com o menino Jesus no colo, e ele teria feito xixi e teria ficado essa marca no jumento como agradecimento”, explica o zootecnista Fernando Vianna
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A música gravada pelo rei do baião na década de 1970, época em que o jumento era a própria tradução do modo de viver do nordestino. Uma fase anterior à chegada das motos no campo. Cenário que alguns pequenos produtores rurais ainda preservam.
No município de Sítio Novo, no Rio Grande do Norte, conhecemos Paulo da Silva. Naquele dia, ele reclamava que o animal andava meio sem serviço, porque não chovia há muito tempo. A terra já está pronta para o plantio e o trabalho do jumento é fazer o que eles chamam de limpa de campinadeira.
“Estou preparando para plantar milho e feijão, mas estamos esperando chover pra molhar a terra. Tô esperando pra usar ele. Nunca faltou jumento, mas agora só tem um. Meu pai tinha oito, mas pra que criar tropa de jumento sem ter serviço pra ele”, diz Paulo.
Em um assentamento às margens da rodovia que liga Natal a Mossoró vive Neto das Cabras, criador há 19 anos. Ele tem dois jumentos que se revezam na lida. Só assim ele consegue sozinho dar conta do lote de 14 hectares de terra. “Se eu passar sozinho a enxada, eu levo um mês. Com eles eu faço em quatro dias”, afirma.
Para manter esses animais, o custo é baixo. “Eles só comem o restante que os animais deixam e ainda são gordinhos. Com outro animal seria bem mais caro pra manter. E além do mais, ele não fica perdido. Não tem noite, não tem chuva, não tem nada que faça ele perder o caminho. Ele volta”, diz Neto.
Severino Lourenço Filho tem uma explicação simples para manter o jumento em algumas tarefas. “A moto não vai entrar dentro daquela mata. Isso aqui não fura pneu. O casco dela não fura por nada”, explica.
O casco duro, a baixa estatura, as orelhas sempre atentas. O jumento, também chamado de jegue ou asno é da família dos asininos. Parente do cavalo, muitas vezes é confundido com o burro e a mula - animais estéreis resultantes do cruzamento de égua com jumento.
A raça mais conhecida de jumentos no Brasil é a do jumento pêga, mas estamos falando do jumento nordestino, que corresponde a 90% do rebanho do país. Segundo o IBGE, a população deste animal está em torno de 812 mil animais. No Brasil inteiro são 900 mil jumentos.
O rincho, barulho característico emitido pelo jumento, é mais uma marca registrada do animal. Dizem que ele faz isso de hora em hora.
O zootecnista Fernando Vianna, que estuda a história do jegue há mais de 30 anos, explica algumas das características do típico animal nordestino. “Se busca um animal que tenha uma garupa mais levantada, porque isso ajuda a fazer melhor o transporte da carga que ele está conduzindo. Existe referência de que é o animal que tem capacidade de carregar uma carga superior ao seu próprio peso. Um jumento desse pesa em torno de 130, 140 quilos. Tranquilamente ele carrega no lombo uma carga nessa faixa de 130, 150 quilos. E carrega em solos de areia, que atolam. Ele carrega cargas imensas de capim que não se vê nem o jumento, ele fica totalmente coberto pela carga, mas ele consegue fazer isso”, explica.
Com tanta tradição, é difícil entender porque o jumento virou um problema no sertão. “Grande parte desses animais não têm dono. Nasceram nas estradas vicinais, estradas estaduais, e que não têm dono. E isso faz com que hoje se crie esse estado de celeuma a ponto de acontecer o que está se falando agora em intensificar o abate”, diz Vianna.
Do Globo Rural
fonte do blog de jatão vaqueiro
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