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Só para manter os animais são necessários cinco mil litros de água. Quando perguntado sobre o gado em suas terras, Abelmanto diz ter optado por manter o que dá para criar na região. “A convivência é assim: tem que tirar o que não dá e manter o que tem. Tenho animais pequenos que estão dando para o leite e para comer”. A criação está sendo alimentada com o estoque de palma, feno e mandacaru. Abelmanto também criou um sistema de produção de biogás, o chamado biodigestor. Com a junção de esterco dos animais e do bagaço da cana, passou a produzir biofertilizante e também a transformar os insumos em gás. Desde agosto, não precisa mais se preocupar com gás para cozinhar os alimentos que vão para a mesa da família. “Estou tentando passar isso para as outras famílias. Minha casa se tornou um centro de aprendizagem. Aqui damos aulas práticas de campo com crianças e adolescentes. Hoje suspendi por causa das dificuldades da seca”, revela. Quando questionado sobre o que os agricultores/as e povos do Semiárido devem fazer para conviver com os períodos de longa estiagem, ele diz: “o primeiro passo a dar é ir em busca do conhecimento, que vale tudo, [com ele] você consegue qualquer coisa. Depois, é estocar água e alimentos para esse período. Quando você acredita, arregaça as mangas, dá certo. Digo que se é capaz quando se quer”, conclui. O pensamento do agricultor é reforçado pela coordenadora executiva da ASA, Valquíria Lima, que diz que a convivência com o Semiárido esta intimamente ligada a capacidade de estocar: água, alimentos, sementes e conhecimentos. Assim, é possível estimular um novo olhar sobre a convivência que tenha na cultura da estocagem a base para o desenvolvimento das ações. “Estocar água para o consumo humano, para a produção de alimentos da família e dos animais e estocar conhecimentos. E aprender a poupar. No Semiárido precisamos poupar água que é a base de tudo. Por isso, nosso incentivo aos intercâmbios de experiências, as vivências e os aprendizados que são coletivos e individuais. A convivência com o Semiárido passa por uma nova forma de olhar a realidade, interpretá-la, conhecê-la e ir experimentando a diversidade e fortalecendo a cultura de estocagem no Semiárido brasileiro”, avaliou. Comunidade se fortalece na seca – Desde o início desta estiagem, as famílias de Mucambo se fortaleceram em grupo e conquistaram benefícios para a comunidade. Foi através da Associação Comunitária de Mucambo que veio a parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). A articulação e força da comunidade deram a oportunidade para quatro famílias produzirem bolos, doces, almoços e lanches a partir de produtos da agricultura familiar. Durante seis meses de trabalho, serão fornecidas 2.400 quentinhas de almoços (cada quentinha será vendida por R$ 7,95) e lanches (cada um a R$ 1,95) para os cursos desenvolvidos pelo SENAR na região. O lucro garantirá o sustento das famílias em tempos de estiagem. A Associação também já conquistou outros benefícios como aquisição de trator, cisternas, bombas e barreiro trincheira, além de eletricidade para 66 famílias. O salto adiante é para se constituir como uma cooperativa, passar a emitir nota fiscal e construir uma sede própria. “Estamos otimistas, pois somos capazes de produzir e comercializar. Hoje eu sou um articulador da comunidade, pelo conhecimento que adquiri. Aqui ainda existe a cultura de não fazer estoque. Mas eu sempre digo: gente, o caminho é esse. Comecei a fazer algo para dizer que isso é possível. É possível viver com simplicidade na nossa região”, conta orgulhoso Abelmanto. |
Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Angicos - RN
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Alertado em 2007 sobre a seca, agricultor estocou alimento e água e se mantém produtivo
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