A luta não vai parar: juventude rural fortalece conteúdo para discussões
A luta não vai parar. A juventude rural estava ainda mais consciente da necessidade de organização e mobilização depois da violência da polícia durante a manifestação de ontem contra a PEC 55 na Esplanada dos Ministérios. “O que oeste governo federal e o Congresso Nacional querem, de fato, é defender os interesses de uma elite e acabar com os direitos do povo. A PEC 55, a deformação do projeto anti-corrupção, a Reforma do Ensino Médio sem diálogo, tudo isso é exemplo disso. É um desastre para a sociedade brasileira, e atinge com muita força a juventude do campo, da floresta e das águas”, afirmou a secretária de Jovens da CONTAG, Mazé Morais.
O início dos trabalhos se deu com uma Roda de Experiências, na qual a jovem paranaense Isabela Albuquerque e o mineiro André Martins contaram suas trajetórias no meio rural: as dificuldades e os sucessos do trabalho no campo. Os dois jovens têm em comum a busca constante por formação e também a participação em grupos de venda e produção. Em seguida houve o Painel de debate com a participação da professora da UFRJ Elisa Guaraná, da professora da UFSC Joana Passos e do pesquisador do IPEA Alexandre Arbex. Os especialistas falaram sobre o tema “Juventude na luta pelo direito de permanecer no campo com desenvolvimento rural solidário e sustentável”.
Roda de Experiências
A jovem Isabela Albuquerque trabalha com a família no município de Santa Helena (PR), onde tem bovinocultura de leite, suinocultura com uma cooperativa e uma lavoura de soja e milho. A renda é dividida entre os integrantes da família, e ela busca sempre a melhoria das condições de produção e venda. “Quando conheci o movimento sindical eu quis participar porque eu quero que todos tenham oportunidades de viver no campo, produzir e ter qualidade de vida. Sou educadora popular formada pela ENFOC e lá aprendi a importância de dar continuidade a uma luta que já conseguiu tanto por nós, e que deve ser cada vez mais fortalecida”, contou a jovem.
Já o mineiro André Martins é presidente da associação dos agricultores familiares de sua comunidade, próxima a cidade de Ouro Preto (MG). A principal atividade é uma horta de quatro alqueires na qual trabalham 33 famílias, a maior parte formada por jovens de até 32 anos. Cerca de 90% da produção é vendida para a Universidade Federal de Ouro Preto, com a qual a associação fez uma parceria para oferecer formação para os(as) jovens agricultores. “Quando fomos ao banco pedir o benefício do Pronaf Jovem colocaram muitas dificuldades, mas nós mostramos que tínhamos plano, organização e então conseguimos o crédito, que foi muito importante para o avanço da nossa produção”, conta o rapaz.
Painel Temático
A professora da Universidade Federal de Santa Catarina Joana Passos colocou a questão racial no centro do debate. “A raça é um dos principais elementos estruturantes da sociedade brasileira: a cor da pele influencia diretamente o lugar que as pessoas ocupam na sociedade. O Brasil é um país racista e precisamos discutir esse tema dentro dos espaços de luta”, afirmou a estudiosa. “A população rural é de 35 milhões de pessoas. Dessas, 21 milhões se declararam negras. Por isso, é fundamental discutir a representatividade dos(as) negros(as) dentro dos espaços de decisão e poder”, completou.
As conquistas da juventude rural em termos de políticas públicas e de visibilidade oficial foi o principal tema da apresentação da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Elisa Guaraná. Segundo ela, as políticas de educação do campo foram uma das maiores conquistas da luta da juventude rural: mesmo com o fechamento de milhares de escolas por municípios e estados, houve avanços no ensino superior e no ensino técnico, com o Pronatec Campo, com os Institutos Federais, com a interiorização de Universidades Federais e também programas coo o Pronera e outros. “O que poderia ter sido feito, mas não foi, foi a institucionalização, ou seja, a articulação com o Estado, das Escolas Famílias Agrícolas”, afirmou. Para Elisa Guaraná, é preciso lutar pela efetivação de conquistas como a Lei do Estatuto da Juventude e o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural. “Não podemos deixar essas vitórias no esquecimento! Além disso, estamos em um momento muito difícil de retrocessos dos direitos sociais e a juventude precisa manter seu papel de romper barreiras e nos unir com os outros movimentos”, disse a professora.
O painel se encerrou com a apresentação dos resultados da pesquisa sobre a juventude rural realizada pelo IPEA. Quem apresentou foi o pesquisador Alexandre Arbex. Uma das principais conclusões da pesquisa – realizada com mais de 1500 jovens durante o 3º Festival da Juventude Rural da CONTAG, em abril de 2015 – foi a de que o êxodo rural é causado principalmente por falta da ação do Estado no campo, florestas e águas, e não por vontade das pessoas. Além disso, ao contrário do pensamento comum, quanto maior o nível de escolaridade, maior o desejo de permanecer no campo. “Quando o(a) jovem não tem seus estudos completos ele sonha em ir para a cidade completa-los. Mas aqueles que conseguiram completar os estudos, até mesmo o ensino superior, querem permanecer no campo e lutar por qualidade de vida”, mostrou o pesquisador.
A tarde deste segundo dia é dedicada aos trabalhos em grupo, onde os(as) jovens vão ler o documento base do 12º Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, e discutir as proposições que serão levadas para as Plenárias estaduais e regionais. “Este é o momento de construir as proposições e chegara ao consenso do que os jovens querem incluir como diretrizes para os próximos quatro anos”, explicou a secretária de Jovens da CONTAG, Mazé Morais.
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