Povo do semiárido brasileiro mantém tradição da festa junina
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“A fogueira tá queimando em homenagem a São João, o forró já começou, vamos, gente, arrasta pé nesse salão”.
Dentre os costumes mais antigos relacionados às festividades de São João, a fogueira se destaca. De origem europeia foram introduzidas no Brasil pelos colonos portugueses desde o século do descobrimento. Segundo a tradição católica, ela lembra um acordo feito entre Isabel, mãe de João Batista, e sua prima Maria, que morava distante, para se comunicar após o nascimento do menino. E esse costume é conservado até hoje. Todos os anos, na véspera ou na noite do dia 24 de junho, as fogueiras são acesas, relembrando esse momento através de danças e festejos. Com o passar do tempo, a fogueira foi adotada não somente em homenagem a São João, mas também para representar o culto a outros santos lembrados no mês de junho. São eles, Santo Antônio (dia 13), que se atribui a fama de santo casamenteiro, e São Pedro (dia 29), o protetor das viúvas. Esse ciclo permitiu que as festividades se estendessem durante todo o mês de junho, e pela força das tradições aos santos, recebesse o nome de festa junina. A fogueira de cair - Graças às comunidades rurais e pequenas cidades do interior, a tradição da fogueira sobrevive e em algumas localidades de forma mais curiosa. No povoado de Laginha, por exemplo, município de Retirolândia, no semiárido baiano, ainda hoje é feita a “fogueira de cair”. Uma pequena árvore é toda decorada com doces, milhos, bebidas e até dinheiro. Coloca-se essa árvore no centro da fogueira, acesa enquanto são oferecidas comidas e bebidas típicas da época aos visitantes que ficam esperando a fogueira queimar e derrubar a árvore. Sempre no dia 23 de junho, o jovem Alberto Naidson Tito da Silva faz a fogueira de cair com os amigos e vizinhos da rua. “Peguei a tradição com meu avô e tios e, há quatro anos, é aquela festa quando a árvore cai, porque todos correm para pegar os prêmios. É uma alegria aqui em Laginha”, enfatiza Alberto. Ritual dos batizados - Antigamente existiam duas formas principais de tornar-se padrinho ou madrinha, compadre ou comadre. Uma era, e ainda é, pelo batismo e a outra é o batizado na fogueira. Costume muito antigo adotado entre famílias que queriam estreitar seus laços com vizinhos ou amigos, o laço do compadrio, onde passaria aos padrinhos a responsabilidade de substituir os pais em caso de morte destes. No ritual, que acontece mais na zona rural, realizado na noite de São João, formam-se duplas, ficando uma pessoa de cada lado da fogueira - já em brasa rente ao chão - e em seguida pulam as brasas de mãos dadas em sentido cruzado. “Tenho dois cumpadre de fogueira” conta Valdete Bastos, produtora rural do distrito feirense de Bomfim de Feira. Valdete conta que é comum nesse momento recitar verso como: “São João dormiu, São Pedro acordô, vamo sê cumpadre, que São João mandô”. Comidas típicas - Produtos agrícolas genuinamente americanos como o milho, a mandioca e o amendoim, cultivados pela população indígena, tornaram-se a base da alimentação dos brasileiros. Com a tecnologia trazida pelos portugueses, como o forno de fazer farinha e costumes de como preparar os pratos, provocaram mudanças no processamento desses produtos. Com muita criatividade, boa parte das comidas típicas do período junino é produzida através da agricultura familiar: mingaus, sequilhos, bolos, canjicas, cocadas, doces e licores são alguns exemplos das delícias servidas nessa época. Segundo dados do IBGE (2010), no estado da Bahia, existem 762 mil estabelecimentos da agricultura familiar e aproximadamente 3,8 milhões de pessoas neste segmento social. Além de ter um modo de produção próprio, uma rica cultura e relação próxima com a paisagem rural, a agricultura familiar contribui com a preservação da tradição junina. |
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